9 de outubro de 2013

The Strokes - Comedown Machine


Os Strokes estão virando a banda de Julian Casablancas e isso, no caso, não é necessariamente mau. O que se espera de grandes grupos (como os Strokes) é que mudem, evitando tornarem-se numa imitação cristalizada e caquética da sua imagem inicial.
Salvaguardadas as grandes diferenças entre os exemplos que se seguem, os Pixies de 1991 não eram os mesmos Pixies de 1987; os Clash de 1980 pouco tinham a ver com os Clash de 1977; os Metallica de 1991 mal se reconhecem nos Metallica de 1986; os U2 de "Achtung Baby" (1991) e os U2 de "Rattle & Hum" (1988) são duas bandas completamente diferentes. Dizer que são escassos os elos de contato entre os Strokes de 2013 e os Strokes dos verdes anos de 2001-03 é dos melhores elogios que se podem fazer à banda nova-iorquina.

E como mudam os Strokes? Submetendo-se às vontades electro-poppers do vocalista Julian Casablancas, tal como expressas no seu único álbum a solo "Phrazes for the Young" e, a tempos, no anterior  do grupo, "Angles". Os Strokes tiveram um problema de continuidade, bem evidente em "Angles" (álbum às arranhadelas e desconexo, mesmo que fértil em  ideias), que é agora resolvido através da aceitação da nova ordem electrônica de Casablancas por parte dos outros membros. É por isso que o novo álbum, "Comedown Machine", é bem mais coeso que o seu antecessor.

Definir os Strokes como um quinteto passa a ser uma formalidade legal, musicalmente pouco audível em "Comedown Machine". Na constelação de sintetizadores que predomina no disco, a melhor sociedade de guitarras que o rock do século XXI conheceu, Albert Hammond Jr e Nick Valensi, intervém de forma moderada neste novo modelo. Faz-se assinalar pontualmente, mas parece melhor adaptada que a omissão gritante da secção rítmica, substituída pelas máquinas de forma mais descarada.

O baixista Nikolai Fraiture ainda se integra minimamente na estrutura dançante do disco em alguns momentos. Mas fica-se com a sensação que parte substancial de Comedown Machine podia ter sido gravada sem o baterista Fabrizio Moretti. As excepções, com aquele frenesim rockeiro à antiga, acontecem duas ou três vezes, sobretudo em 'All The Time' (não por acaso, escolhido como primeiro single), um dos raros momentos em que ouvimos o quinteto em ação - ou uma pequena benesse para os fãs antigos mais conservadores.

Há no entanto um problema com "Comedown Machine": já não se sente nos Strokes uma banda de corpo e alma inteira. Ao contrário de ocasiões antigas, não gravaram para arrasar. Talvez já não tenham essa necessidade.




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