Geração Beatnik
JAMES DEAN |
O adjetivo "beat" foi introduzido ao grupo por Herbert Huncke, embora Kerouac tenha expandido o significado do termo. "Beat" fazia parte do calão do submundo – o mundo dos vigaristas, toxicodependentes e pequenos ladrões, onde Ginsberg e Kerouac procuraram inspiração. Beat era o calão para "beaten down" ou "downtrodden", ambas expressões que podem significar oprimido, rebaixado, espezinhado. Mas para Kerouac, tinha uma conotação espiritual. Outros adjetivos discutidos por Holmes e Kerouac foram "found" (encontrado, achado) e "furtive" (furtivo). Kerouac alegou que ele tinha identificado (e incorporado) uma nova tendência análoga à influente Geração Perdida.
Kerouac explicou o que ele queria dizer com "beat" no Forum de Brandeis, "Is There A Beat Generation?" , a 8 de November de 1958, no New York's Hunter College Playhouse. Os oradores para o seminário eram Kerouac, James A. Wechsler, o antropologista de Princeton, Ashley Montagu, e o autor Kingsley Amis. Wechsler, Montague e Amis, todos usavam fato, enquanto Kerouac tinha vestido uns jeans pretos, botas pelo tornozelo e uma camisola ao xadrez. A ler um texto preparado, Kerouac reflectiu sobre os seus primórdios Beat:
É por causa de ser um Beat, que eu acredito que está na beatitude e que Deus amou tanto o mundo que teve que dar-lhe o seu único filho... Quem sabe na verdade, se o Universo não é um vasto mar de compaixão, o verdadeiro mel sagrado, debaixo desta mostra de personalidade e crueldade.
O discurso de Kerouac foi mais tarde publicado como "The Origins of the Beat Generation" (Playboy, Junho de 1959). No artigo, Kerouac realçou a forma como a sua filosofia beatificada original tinha sido ignorada como quando Caen e outros tinham intervindo para alterar o conceito de Kerouac com piadas e jargões:
Numa tarde fui à igreja da minha infância e tive a visão do que "Beat" realmente queria dizer...a visão da palavra Beat como tendo o significado de beatificado... As pessoas começaram a chamar-se a elas mesmas beatniks, beats, jazzniks, bopniks, bugniks e finalmente eu fui apelidado de "avatar" de tudo isto.
Etimologia
A palavra "beatnik" foi inscrita por Herb Caen num artigo no San Francisco Chronicle a 2 de Abril de 1958.[10] Caen cunhou o termo juntando-lhe o sufixo russo -nik depois de Sputnik I, para a Geração Beat. A coluna de Caen com a palavra seis meses depois do Sputnik. Pode ter sido a intenção de Caen caracterizar os membros da Geração Beat como não-americanos. Opondo-se à distorção do termo por parte de Caen, Allen Ginsberg escreveu para o New York Times a lamentar "a obscena palavra beatnik," comentando, "Se os beatniks e poetas Beat não iluminados infestarem este país, eles não terão sido criados por Kerouac mas pela indústria da comunicação em massa que continua fazer lavagens cerebrais ao homem."
Cultura Beat
Neste período, a palavra "beat" indicou a cultura, a atitude e a literatura, enquanto o uso comum da palavra "beatnik" era o de um estereótipo encontrado em desenhos animados ligeiros e personagens da ‘‘media’’ distorcidos, e por vezes violentos. Esta distinção foi clarificada pelo professor da Universidade de Boston, Ray Carney, uma autoridade na cultura beat, no "The Beat Movement in Film", as suas notas para uma exibição e projecção em 1995 do Museu Whitney:
A maioria da cultura Beat representou uma postura negativa em vez de uma positiva. Foi mais animada pelo vago sentimento de deslocamento cultural e emocional, insatisfação, e anseio, do que por uma finalidade especifica ou programa. Teria sido muito mais fácil só nós só estivéssemos à procura de filmes com "beatniks". O colunista de San Francisco Herb Caen cunhou a palavra (que através de trocadilhos sarcásticos sobre o russo Sputnik que foi recentemente lançado, tinha como intenção lançar a dúvida sobre o sangue vermelho-branco-e-azul e todo americano, dos beatniks). E a ‘‘media’’ de massas popularizou o conceito. Dobie Gillis, da revista Life, Charles Kuralt, e um montão de outros entertainers e jornalistas reduziram o conceito Beat a um conjunto de acessórios supérfluos e tolos, que se mantiveram connosco desde então: pêras, óculos de sol, leituras de poesia, bares, preguiçosos, e jargões do "cool, man, cool". O único problema é que nunca existiram beatniks neste sentido (excepto, talvez, para o imitadores da influencia da media, os quais mais tarde vieram em conjunto na historia do movimento). A cultura Beat foi um estado de espírito, não a importância com que tu e vestes ou dizes ou onde moras. De facto, a cultura Beat esteve longe de ser monolítica. Foi muito diferente, conflituante, deslocando estados de espírito. Os filmes e os vídeos que foram eleitos para a lista de projecção são uma tentativa para ir além dos clichés e slogans culturais, para olhar em perspectiva os costumes do Central Casting e gozar com a media de massas equiparada com o conceito Beat, a fim fazer justiça ao seu espírito.
Desde 1958, os termos Geração Beat e beat têm sido usados para descrever o movimento literário anti-materialista que começou com Kerouac em 1948, que se alongou pelos anos 60. A filosofia Beat anti-materialista e de introspecção influenciou músicos da década de 60, tais como Bob Dylan, Pink Floyd e The Beatles.
No momento em que os termos foram adoptados, houve uma tendência entre jovens estudantes das universidades para adoptar o estereotipo, com os homens a usarem pêras e boinas, revirando os seus próprios cigarros e a tocar bongos. A moda feminina incluía léotards pretos e usar cabelo comprido, liso e sem adornos em rebelião contra a cultura da classe média dos salões de beleza. O uso da marijuana estava associado à subcultura, e durante os anos 50, o livro de Aldous Huxley, The Doors of Perception promoveu visões influenciadas em drogas.
Em 1960, uma pequena comunidade 'beatnik' em Newquay, Cornwall, Inglaterra (incluindo o jovem Wizz Jones) atraiu a atenção e a aversão dos seus vizinhos, porque deixou crescer o cabelo até um comprimento que era anormalmente longo (passava os ombros), pelo qual foram entrevistados pelo repórter da BBC, Alan Whicker, para a televisão.
A filosofia beat era geralmente contra-cultural, anti-materialista e sublinhou a importância de uma melhoria do ser interior de cada um, acima das posses materiais. Alguns escritores beat começaram a procurar em religiões orientais como o Budismo ou Taoísmo. A politica tinha tendência para ser liberal; com o apoio para causas como a dessegregação (embora muitas figuras associadas ao movimento Beat original, particularmente William Burroughs, abraçaram ideias libertárias/conservadoras). Uma abertura à cultura e arte afro-americana era aparente na literature e na musica, principalmente no jazz. Enquanto Caen e outros escritores implicaram uma associação comunismo, não havia uma ligação obvia ou directa entre a filosofia beat (como foi exprimida pelos principais autores do movimento literário) e a filosofia do movimento comunista, a não ser a antipatia que ambas as filosofias partilharam face
COMO PODE TER USADO TANTA DROGA ETER VIVIDO TANTO...
CITAÇÕES DOS BEATNIKS:
“Benjamin Franklin era uma espécie de vagabundo na Pensilvânia [...] Será que Whitman aterrorizava as crianças da Louisiana quando percorria a estrada aberta? [...] Teddy Roosevelt, vagabundo político – Vachel Lindsay, vagabundo menestrel, vagabundo maltrapilho [...] Jesus era um estranho vagabundo que caminhava sobre a água. Buda também foi um vagabundo que não prestava atenção nos outros vagabundos [...] W. C. Fields – seu nariz vermelho explica o significado do mundo triplo, Grande Veículo, Veículo Menor, Veículo do Diamante”
(Viajante Solitário)
“Embora Gene fosse branco, havia algo da sabedoria de um velho negro experiente nele, e algo que lembrava demais Elmer Hassel (1), o viciado de Nova York, mas era como se fosse um Hassel das estradas de ferro, um épico Hassel andarilho, cruzando e tornando a cruzar a nação anualmente, o Sul no inverno, o Norte no verão, apenas porque não havia nenhum lugar onde pudesse permanecer sem cair no tédio e também porque não havia nenhum lugar para ir senão todos os lugares, rodando sempre sob as estrelas, especialmente as do Oeste.”
1. Elmer Hessel é o pseudônimo, em On the Road, de Herbert Huncke.
(On the Road, p. 48)
"E por um instante alcancei o estágio do êxtase que sempre quis atingir, que é a passagem completa através do tempo cronológico num mergulhar em direção às sombras intemporais, e iluminação na completa desolação do reino mortal e a sensação da morte mordiscando meus calcanhares e me impelindo para a frente como um fantasma perseguindo seus próprios calcanhares, e eu mesmo correndo em busca de uma tábua de salvação de onde todos os anjos alçaram vôo em direção ao vácuo sagrado do vazio primordial, o fulgor potente e inconcebível reluzindo na radiante Essência da Mente, incontáveis terras-lótus desabrochando na mágica tepidez do céu. [...] Percebi ter morrido e renascido incontáveis vezes, mas simplesmente não me lembrava justamente porque as transições da vida para a morte e de volta à vida são tão fantasmagoricamente fáceis, uma ação mágica para o nada, como adormecer e despertar milhões de vezes na profunda ignorância, e em completa naturalidade. Compreendi que somente devido à estabilidade da Mente essencial é que essas ondulações de nascimento e morte aconteciam, como se fosse a ação do vento sobre uma lâmina de água pura e serena como um espelho. [...] Pensei que ia morrer naquele instante. Mas não morri e caminhei uns sete quilômetros, catei dez longas baganas e as levei para o quarto de Marylou no hotel e derramei os restos de tabaco no meu velho cachimbo a o acendi."
(On the Road, p. 217)
"[...] passo correndo, tento comprar tacos, de qualquer tipo, em qualquer barraquinha onde eles gritam “Jovem!” – compro fígados fedorentos de salsichas cortadas dentro de cebolas negras e brancas fumegando em gordura quente que estala sobre o fogareiro feito de um pára-lamas invertido – Belisco os calores e os molhos apimentados e acabo devorando bocados inteiros de fogo e sigo correndo – ainda assim eu compro outro, depois dois, de uma feia carne de vaca picada sobre um bloco de madeira, parece que com cabeça e tudo, pedaços de nervos e cartilagem, tudo misturado junto em uma tortilha esquálida e devorado com sal, cebolas e folhas verdes – tudo picado – um sanduíche delicioso quando você encontra uma barraquinha boa."
(Tristessa, p. 44)
"[...] nós finalmente aprenderíamos algo entre os lavradores indígenas desse mundo, a origem, a força essencial da humanidade básica, primitiva e chorosa, que se estende como um cinturão ao longo da barriga equatorial do planeta [...] Essas pessoas eram indubitavelmente índias e não tinham, absolutamente nada a ver com os tais Pedros e Panchos da tola tradição civilizada norte-americana. Tinham as maçãs do rosto salientes, olhos oblíquos, gestos suaves; não eram bobos, não eram palhaços, eram grandes e graves indígenas, a fonte básica da humanidade, os pais dela. As ondas são chinesas, mas a terra é dos índios. Tão essencial como as rochas no deserto, são os índios no deserto da “história” ".
(On the Road, p. 339)
"A maneira selvagem como Tristessa fica de pé, as pernas afastadas, no meio do quarto para explicar algo, como um viciado em uma esquina do Harlem, ou em qualquer outro lugar, Cairo, Bang Bombayo e todo o Bando de Felás dos Palmeirais da Extremidade das Bermudas às asas de albatroz pousadas que cobrem de penas as rochosas da costa do Ártico, só o veneno que servem das focas Gloogloo dos esquimós e as águias da Groenlândia, não é tão ruim quanto aquela morfina da Civilização Alemã à qual ela (uma índia) é forçada a se submeter e a morrer por ela em sua terra nativa."
(Tristessa, p. 32)
"[...]
Charley Parker, perdoa-me –
Perdoa-me por não responder a seus olhos –
Por não haver indicado
O que você poderia divisar –
Charley Parker, reze por mim –
Reze por mim e por todos
No Nirvana de seu cérebro
Onde você se esconde, indulgente e enorme,
Não mais Charley Parker
Porém o secreto indizível nome
Que carrega consigo o mérito
Não para ser mensurado daqui
Para cima, para baixo, para o leste, para oeste –
- Charley Parker, suspenda o exílio,
meu, e de todo o mundo"
Charley Parker, perdoa-me –
Perdoa-me por não responder a seus olhos –
Por não haver indicado
O que você poderia divisar –
Charley Parker, reze por mim –
Reze por mim e por todos
No Nirvana de seu cérebro
Onde você se esconde, indulgente e enorme,
Não mais Charley Parker
Porém o secreto indizível nome
Que carrega consigo o mérito
Não para ser mensurado daqui
Para cima, para baixo, para o leste, para oeste –
- Charley Parker, suspenda o exílio,
meu, e de todo o mundo"
(Mexico City Blues, p. 243)
"De repente, percebi que em virtude de seus muitos pecados, Dean estava se transformando no Idiota, o Imbecil, o Mártir do grupo. [...] Era isso o que Dean era, o ESTÚPIDO SAGRADO. [...] Ali estava um BEAT – a raiz, a alma da Beatitude. Quais seriam seus profundos conhecimentos? Ele estava tentando me dizer, com todas as suas forças, o que estava sabendo, e era exatamente isso que eles invejavam em mim, a posição que eu ocupava ao lado dele, defendendo-o e sorvendo sua sabedoria como outrora eles haviam tentado fazer. [...] Amarguras, recriminações, conselhos, moralidade, tristeza – tudo isso lhe pesava nas costas enquanto á sua frente descortinava-se a alegria esfarrapada e extasiante de simplesmente ser."
(On the Road, pgs. 239 a 241).
INFLUÊNCIAS MUSICAIS
Bob Dylan
Os anos 60 e 70, foram de grandes mudanças em nossos comportamentos humanos, sendo que até hoje, é difícil assimilar toda a história que está por trás desses nossos comportamentos. Na literatura não foi diferente e ali está o manifesto contra o American Way Of Live ( maneira de viver norte-americana ), contra a tradição britânica, contra as guerras e a vontade de mudança. Esse movimento foi chamado de movimento beat.
Ian Curts
Já se falou muito sobre Ian Curts, cantor do grupo Joy Division, sobre sua dor, sobre sua voz e como o grupo influenciou em toda uma musicalidade que surgiu dali em diante (Echo and The Bunnymen, U2, Radiohead). Sua influência é bem nítida até no Brasil (de onde você acha que Renato Russo tirou sua danã mexendo os braços?), mas muito pouco se falou da sua importância literária.
Jim Morrison
No dia 3 de julho de 1971, morria em Paris o poeta, compositor e líder da banda The Doors, cuja obra visionária o inscreve na galeria de escritores malditos como William Blake, Arthur Rimbaud e Dylan Thomas.
Tom waits é considerado por muitos o último beatnik vivo.
O jazz é claro também foi muito forte neste movimento